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sexta-feira, 25 de julho de 2014

Prefeitura autoriza demolição - Matéria do Jornal O Tempo com participação da MSc. Cristiana Furlan Caporrino

Município afirma que alça que ficou de pé deve ser destruída em nome da segurança de moradores

Função. Dois dos três pilares que sustentavam o viaduto se mantiveram na mesma posição (como o acima); apenas um deles afundou
PUBLICADO EM 24/07/14 - 21h10
Com base no laudo apresentado na última terça-feira pela construtora Cowan, a Prefeitura de Belo Horizonte deu o aval para a demolição da alça que restou do viaduto Batalha dos Guararapes, na avenida Pedro I, em Venda Nova, em caráter de urgência. Porém, especialistas acreditam que a medida é precipitada por ser tomada a partir do parecer técnico de uma parte interessada no processo e por haver risco de perda de provas que podem contribuir para esclarecer o que levou à queda da outra alça, há 22 dias, matando duas pessoas e deixando 23 feridas. A decisão do Executivo foi tomada nesta quinta após audiência com o Ministério Público de Minas (MPMG) e a construtora.

Apesar de ter contratado uma perícia para apurar as causas do acidente, paralelamente aos trabalhos da Polícia Civil (PC), o município informou que não vai aguardar os resultados diante do risco iminente de queda da estrutura, apontado no parecer da Cowan. O documento concluiu que houve erro de cálculo no projeto executivo, que dimensionou menos aço do que o necessário no bloco que fica a abaixo de um dos pilares do viaduto. A falta de armadura é o que teria feito a estrutura ruir.

“A prefeitura demonstrou, na audiência, a necessidade de demolição da referida alça viária, para se evitar qualquer risco para os moradores, motoristas e pedestres”, disse o Executivo, por meio de nota, ressaltando ainda a adoção da medida em caráter de urgência.

A construtora Cowan aceitou arcar com as despesas de hospedagem provisória das famílias dos prédios vizinhos ao elevado e com os custos de contratação de projeto e obras da demolição da alça que restou. O método utilizado deve ser o de implosão. Posteriormente, se ficar comprovado que ela não é a culpada pelo desabamento, a empresa poderá ser ressarcida.

Provas. Para o vice-chefe do departamento de engenharia civil da Universidade Estadual Paulista (Unesp), José Bento Ferreira, especialista em recuperações estruturais, a demolição não pode ocorrer antes do laudo da perícia. “O correto é realizar uma auditoria independente. Não se pode tomar providências baseadas em laudos de partes do processo. Isso pode, inclusive, destruir alguma prova que serviria para verificar se a obra foi executada como projetada”, destacou. Segundo Ferreira, ainda pode ser feita uma prova de carga da estrutura, aplicando um peso em cima dela para comprovar a deformação. “O bloco pode ser refeito ou reforçado”, considerou.

A opinião é compartilhada por Cristiana Furlan Caporrino, mestre em engenharia de estruturas pela Universidade de São Paulo (USP). “Ainda que a alegação da construtora pareça pertinente, a demolição deve ser esperar o laudo oficial”. A Consol, responsável pelo projeto, enviou uma nota para a prefeitura, nesta quinta, contestando o laudo da construtora e alertando que a destruição não deve ser feita neste momento.

O laudo da perícia da Polícia Civil (PC) só deve ser concluído em pelo menos mais 30 dias.

Conforme o diretor do Instituto de Criminalística, Marco Paiva, o relatório está sendo elaborado com base em estudos mais amplos que o parecer da construtora Cowan e demais problemas como na sondagem do solo ainda não foram descartados. “Precisamos saber como cada falha teria contribuído para o sinistro. É mais prudente esperar a nossa conclusão. A Cowan está vendo o lado dela. Não podemos ser precipitados”, afirmou Paiva.

Investigação
Depoimentos. O Delegado Hugo e Silva, responsável pelo inquérito, já ouviu 50 pessoas entre passageiros do ônibus envolvido na tragédia, funcionários da obra, familiares das vítimas e engenheiros da construtora.

Perícia deve demorar pelo menos mais 30 dias

Os estudos sobre a estrutura, fundação, solo e a verificação do controle de qualidade da obra foram concluídos pela Polícia Civil, mas a previsão de emissão do laudo final é de cerca de 30 dias a contar da total retirada das estruturas acima e no entorno do pilar do viaduto.

Procurada pela reportagem, a Cowan, que realiza o trabalho de demolição da alça que caiu, não informou quando terminará a destruição da parte do viaduto que ficou em cima do pilar, que ainda será periciado. A demolição é feita com o auxílio de um equipamento especializado que corta a estrutura.

Hoje, o delegado Hugo e Silva e o diretor do Instituto de Criminalística da Polícia Civil, Marco Paiva, vão prestar mais esclarecimentos sobre o andamento das investigações.

Saiba mais
Causas. Quando o viaduto caiu, especialistas em estrutura ouvidos por O TEMPO apontaram várias causas possíveis para o acidente. A maioria deles disse que erro teria ocorrido na sondagem do solo. O foco da investigação é na região dos pilares. Um deles afundou cerca de 6 m.

Cálculo. O erro apontado pela Cowan no projeto do viaduto é considerado grosseiro (falta de aço). Segundo o doutor em recuperações estruturais, José Bento Teixeira, essa é uma falha muito improvável, porque é um componente básico, que todo calculista saberia dimensionar.

Verificação. Para a mestre em engenharia de estruturas pela USP, Cristiana Caporrino, a construtora poderia ter estranhado o projeto e questionado ou contratado alguém mais para verificar o cálculo, já que tem larga experiência em construção de viadutos.

Obras. Nesta quinta, após a reunião com a prefeitura e a Cowan, o promotor Eduardo Nepomuceno lembrou ainda que as obras de mobilidade urbana da capital já vinham sendo investigadas desde 2012. “Já havia outros erros de projeto, como o piso asfáltico na avenida Cristiano Machado”,
afirmou o promotor.

Prejuízo
O prejuízo ao patrimônio municipal foi calculado em cerca de R$ 10 milhões, conforme Eduardo Nepomuceno. Ele destacou que o município não pode pagar duas vezes pela mesma obra. “O Ministério Público entende que cabia à prefeitura verificar e aprovar o projeto, e a empresa executora verificar o erro apontado. E ela não pode dizer que não é culpada”, disse.

Trânsito
A avenida Pedro I, na altura do bairro São João Batista, foi fechada para o tráfego de veículos logo após o acidente, no último dia 3. A BHTrans estabeleceu desvios. A liberação da via iria ocorrer na semana passada, porém foi cancelada após o laudo da Cowan apontar riscos. Diante disso, não há previsão para que o trânsito seja retomado na via. 
http://www.otempo.com.br/cidades/prefeitura-autoriza-demoli%C3%A7%C3%A3o-1.888908

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